Quando o encontrei, ele parecia
despedaçado. Carregava um olhar cansando e um semblante triste, e eu era o
culpado daquele crime, que não aconteceu.
Ao me ver, esperança num
momento, e desapontamento após, brotaram em seu rosto. Abrindo um vazio que eu
não entendia, entre um olhar sem preconceitos e um maldito silêncio, nasce um
sorriso, insuficiente para quebrar o gelo. Mas então ele exclama:- Como você
está bem! – soa-me como um julgamento. Respiro fundo, percebendo que os anos me
deram a habilidade de esconder meus sentimentos de fragilidade.
-Como você está? O que tem feito?
Ele me olha fundo, então desvia,
como se me ver o machucasse e diz:
-O de sempre, pensando muito em tudo e esperando o próximo frio na barriga, dos declives dessa Montanha
Russa.
Concordo com a cabeça, e temo ser
a Montanha Russa, ou, simplesmente, não sê-la.
-Bom te ver, passe bem.- Digo, querendo mais que qualquer
coisa, me jogar em seus braços e beijá-lo, como se este fosse meu último ato
com vida.
Na volta para casa, enquanto
dirijo, penso nos passos que me trouxeram até aqui, e se ainda posso voltar, e
se quero voltar. Embora nada me permita esquecer, nem sequer por uma noite, o
seu cheiro, o seu abraço, e os seus olhos na claridade que invadia o quarto
pela janela, nas ensolaradas manhãs, daquele fim de inverno. Não consigo ver se
haveria possibilidade da nossa história ter tomado outro rumo.
Mesmo esta sendo um ferida que
arde todo dia, a cada dia, aprendi a escutar o que não foi dito, e,
principalmente, aprendi que existe vida sem ele. Acho que acostumei-me a
melancolia, e agora, ela é como uma droga a qual sou adicto.
Mais uma tarde se finda e eu não
tenho certeza de nada, nem se foi realidade ou devaneio, não importa. Só preciso
arrancar da minha lembrança as palavras gritadas “eu e você sabemos o que você
está fazendo.”