terça-feira, 11 de março de 2014

Acasos.

Quando o encontrei, ele parecia despedaçado. Carregava um olhar cansando e um semblante triste, e eu era o culpado daquele crime, que não aconteceu.
Ao me ver, esperança num momento, e desapontamento após, brotaram em seu rosto. Abrindo um vazio que eu não entendia, entre um olhar sem preconceitos e um maldito silêncio, nasce um sorriso, insuficiente para quebrar o gelo. Mas então ele exclama:- Como você está bem! – soa-me como um julgamento. Respiro fundo, percebendo que os anos me deram a habilidade de esconder meus sentimentos de fragilidade.
-Como você está? O que tem feito?
Ele me olha fundo, então desvia, como se me ver o machucasse e diz:
-O de sempre, pensando muito em tudo e esperando o próximo frio na barriga, dos declives dessa Montanha Russa.
Concordo com a cabeça, e temo ser a Montanha Russa, ou, simplesmente, não sê-la.
-Bom te ver, passe bem.- Digo, querendo mais que qualquer coisa, me jogar em seus braços e beijá-lo, como se este fosse meu último ato com vida.
Na volta para casa, enquanto dirijo, penso nos passos que me trouxeram até aqui, e se ainda posso voltar, e se quero voltar. Embora nada me permita esquecer, nem sequer por uma noite, o seu cheiro, o seu abraço, e os seus olhos na claridade que invadia o quarto pela janela, nas ensolaradas manhãs, daquele fim de inverno. Não consigo ver se haveria possibilidade da nossa história ter tomado outro rumo.
Mesmo esta sendo um ferida que arde todo dia, a cada dia, aprendi a escutar o que não foi dito, e, principalmente, aprendi que existe vida sem ele. Acho que acostumei-me a melancolia, e agora, ela é como uma droga a qual sou adicto.

Mais uma tarde se finda e eu não tenho certeza de nada, nem se foi realidade ou devaneio, não importa. Só preciso arrancar da minha lembrança as palavras gritadas “eu e você sabemos o que você está fazendo.”