segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A última carta

Esta é a última vez que te escrevo e digo isso definitivamente.
Não tenho mais 18 anos como outrora, não sofro mais por algo que existe só em mim.
É a última vez que te escrevo, e digo isso com verdade.
Digo, porque só assim me alivio, na promessa de ser algo além do que me condicionaram a ser.
Digo, também, porque sei que desta vez vai ser menos doloroso, que outras vezes foi.
Te escrevo esta última vez, para te lembrar que sou mais que 50% de um casal,
Escrevo para que consigas dar-se conta de que eu tenho uma vida.
Escrevo-te, para que lembres de todas as vezes que não me compreendestes e tornastes meu sorrisos em mágoa.
Mas, ainda assim, escrevo para dizer que não levo nada de ruim.
Além da velha televisão, e de algumas mudas de roupas desbotadas,
Não levo nada do que adquiri aqui, escrevo para contar-te que comecei do zero,
Escrevo para que saibas que chegar ao zero foi um grande passo em minha vida.
Quero que saibas que não permitirei mais que me faças sentir culpa por existir,
Quero que saibas que também não tens culpa, por sempre me fazer sentir daquela forma,
Quero que saibas que vivemos bem, e vivemos um pelo outro,
Quero que saibas que essas lembranças serão bem difíceis de serem deixadas para traz.
Te escrevo para dizer que ainda dói, e ainda tem mais para doer,
Talvez mais para mim que pra ti, talvez vise-versa.
Talvez doesse menos se eu não sentisse que é meu dever te escrever isso,
Talvez soterrar a dor com o sentimento de recomeçar seria melhor,
Talvez eu jamais conseguisse superar, se não te escrevesse.
Não te escrevo para que te sintas mal,
Não quero que leves isso como uma crítica,
Ou falta de reconhecimento, pelas risadas que, tantas vezes, me arrancastes.
Minha memória não está assim tão falha,
Eu não sou cego, e se te escrevo é para que lembres que eu jamais esquecerei.