segunda-feira, 23 de abril de 2018

Meu luto

É como se eu estivesse de luto
Como se todas essas partes mortas em mim
Estivessem aos poucos me mostrando
O quanto me faço incompleto
Todos os arrependimentos
Todos os amores que não vivi
Todas as vezes que meu coração se partiu
É como se toda a decepção em ser
Estivesse de luto por alguém que não sou

É como se estivesse com peças faltando
E toda essa dor que não cessa
É o luto por não ter morrido o que deveria acabar
E dói diariamente
E eu continuo negligenciando essas feridas abertas
Você consegue reconhecer quem me tornei?
É este espelho disfórico que me mostra nu
Envolto em uma casca trincada
De dores não enfrentadas

É como se ela e eu não pudéssemos cohabitar
Embora continuemos no fitando a todo momento
A cada reflexo cruel, de um mentira descoberta
E ela me olha nos olhos
E eu fecho os olhos para não ter de encará-la
Mas ela está dentro de mim
E este espelho que mostra a verdade
Insite em me dizer que vivo de mentira

Talvez meu luto seja pela morte da vontade de lutar
Talvez meu luto seja pela nascimento da covardia que paira
Ar pesado, difícil de respirar
Fardo pesado demais para se carregar
O luto é tudo que me resta
Luto pelas coisas que morrem em mim todo dia
Luto pela morte do lutar.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Medo de sentir

Coração dividido, será que ainda vivo?
Me sinto respirar, mas não me vejo sentir
Coração pesado, ainda sei pra onde andar?
Eu nunca soube a hora de parar
Eu respiro fundo, olho para os céus
Busco algo em que me segurar
Mas aquela dor, que parecia estar adormecida
Volta e me assombra,
Como se eu ainda fosse uma criança assustada
E eu corro, e eu fujo de mim mesmo
E eu rastejo, prostrado ao chão
Junto do meu orgulho e dos meus princípios
Fomos pisoteados pela maturidade
E eu andei um milhão de passos
E cheguei onde nunca quis estar
E eu fracassei em tudo que me atrevi tentar
E eu fracassei até no meu tentar desistir
E desisti de mim mesmo
E senti pena desse alguém que nunca fui
Desse alguém que não é digno de pena
Eu rasguei páginas do meu diário
Vivi anestesiado por medo da dor
Anestesiei meus sentimentos
Anestesiei-me a vida
Não sobrou nada
Deitado no chão, vendo o caminho em frente
Caminho que abandonei
Caminhada que não vislumbrarei
Apenas jogado entre as cinzas
Por medo de sentir

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A última carta

Esta é a última vez que te escrevo e digo isso definitivamente.
Não tenho mais 18 anos como outrora, não sofro mais por algo que existe só em mim.
É a última vez que te escrevo, e digo isso com verdade.
Digo, porque só assim me alivio, na promessa de ser algo além do que me condicionaram a ser.
Digo, também, porque sei que desta vez vai ser menos doloroso, que outras vezes foi.
Te escrevo esta última vez, para te lembrar que sou mais que 50% de um casal,
Escrevo para que consigas dar-se conta de que eu tenho uma vida.
Escrevo-te, para que lembres de todas as vezes que não me compreendestes e tornastes meu sorrisos em mágoa.
Mas, ainda assim, escrevo para dizer que não levo nada de ruim.
Além da velha televisão, e de algumas mudas de roupas desbotadas,
Não levo nada do que adquiri aqui, escrevo para contar-te que comecei do zero,
Escrevo para que saibas que chegar ao zero foi um grande passo em minha vida.
Quero que saibas que não permitirei mais que me faças sentir culpa por existir,
Quero que saibas que também não tens culpa, por sempre me fazer sentir daquela forma,
Quero que saibas que vivemos bem, e vivemos um pelo outro,
Quero que saibas que essas lembranças serão bem difíceis de serem deixadas para traz.
Te escrevo para dizer que ainda dói, e ainda tem mais para doer,
Talvez mais para mim que pra ti, talvez vise-versa.
Talvez doesse menos se eu não sentisse que é meu dever te escrever isso,
Talvez soterrar a dor com o sentimento de recomeçar seria melhor,
Talvez eu jamais conseguisse superar, se não te escrevesse.
Não te escrevo para que te sintas mal,
Não quero que leves isso como uma crítica,
Ou falta de reconhecimento, pelas risadas que, tantas vezes, me arrancastes.
Minha memória não está assim tão falha,
Eu não sou cego, e se te escrevo é para que lembres que eu jamais esquecerei.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Despedida

Talvez ter meu coração partido torne mais fácil ter que te deixar
Talvez chorar durante o banho me ajude a sorrir na sua frente
Você tem noção do quão injusto está sendo comigo agora?
Me deixe ficar aqui, quieto por alguns instantes, sem ter que...

Pode ir e fazer o que bem quiser
Eu nunca te prendi a mim
Eu apenas tentei ser o melhor
E acabei aqui, preso a alguém que sequer conheço

Seu rosto me estranha
Principalmente se te observo de longe
Quem são essas pessoas que vivem dentro de você
Isso, realmente, está me incomodando

Então não aja como se fizesse algum sentido
Ou como se não fizesse por merecer minha apatia
Mais um dia em que estamos escondendo o que se passa entre nós
Estamos nos decepcionando mais uma vez, sem poder evitar

E isso tudo vai tornar a hora da partida mais fácil
Ir doendo aos poucos, para que assim nos acostumemos
E doa menos o corte repentino da despedida
Essa é a vida que nos foi dada, esse é o caminho que escolhemos
Essa é a luta por e contra quem somos


sábado, 24 de outubro de 2015

Incessante

O que acontece comigo?
Me sinto confuso, angustiado
Preocupado demais para ouvir meus pensamentos
Eu não entendo o que aconteceu
Nem sei onde me perdi
Apenas sinto saudades daquilo que sequer quis viver

O frio rodeia minha alma
Mas eu não me importo em tremer
É como se esse fosse o único impulso que meu corpo ainda faz
É como se não tivesse mais como derramar arrependimento
Por uma tampa que eu acreditei ter lacrado
Oh, talvez eu devesse...

Um grito no silêncio,
Eu sei exatamente para onde ir
Eu sei por onde essa caminho me levará
Eu apenas não acho que poderia aguentar todas as consequências
De colher de uma vez só tudo o que plantei
Eu nunca disse que estava pronto

Tenho medo de perdê-lo,
Perder-me por ele, o manteria aqui
Ou talvez nada possa fazê-lo ficar
Assim como as folhas caem na primavera
Eu terei que ver o que eu cultivei morrendo
Para dar vida nova a uma verdade que foge das minhas mãos

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Ninguém sabe

Talvez eu apenas não esteja dando o suficiente
Quem sabe, eu não conseguirei suprir o que você precisa
Nós chegamos tão longe, que nem posso contar
Uma jornada que de passos dados em círculos
Voltamos ao ponto de partida

Eu bem te conheço, e sei que também podes ver
Tu bem me conheces, e sabes que logo não poderemos evitar
Sentir dor, apenas para não sentir nada é injusto
Agora já não podemos agir como se nada tivesse acontecido
Ainda não aconteceu...

Eu busquei maneiras de te falar
Mas em todo esse tempo, você ainda não enxergou os sinais
E eu me anulo,
e você me trata como se não soubesse
E eu me ignoro,
E você age como se fosse a coisa certa a se fazer
E eu choro escondido,
E você apenas sabe me perguntar o porquê

Talvez eu esteja exigindo muito de mim
Quem sabe?
É tão pouco pra quem já fez algo
É muito para quem não fez nada
É como se mendigássemos sentimentos

E aquele meu velho discurso de auto-aceitação rui
E o meu amor próprio cai por terra com ele
E os meus medos parecem maiores agora
Mas minha esperança ainda consegue amenizar a dor

Talvez eu esteja pensando que seria melhor se você soubesse
Mesmo sabendo que não
Na verdade ninguém sabe
Esse dia é só mais um fardo a se carregar
Só respirar fundo e engolir seco

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Plenitude

Em busca de plenitude, matando a necessidade de evoluir.
Aqui estou, mais um dia de agonia, angústia aperta e machuca
Assim como eu vou machucá-lo, assim como ele me machucará
Apenas se eu ousar em mostrar quem se esconde dentro de mim
Dentro desta carcaça de um ser repleto de falhas, de um ser que busca ser perfeito
Perfeitamente amado, perfeitamente aceito, perfeitamente invisível
Ao invés de alguém rodeado de seguidores alucinados pela imagem de algo que nunca serão
Que nunca serei, que ninguém quer ser
Em busca de mim mesmo, mas não me encontro dentro de mim
Não me encontrei todas as vezes que me abri ao meio e expus o que tinha de mais vergonhoso
Não me encontrei quando me recolhi, me privei do viver
Me privei de estar aqui, e vi que não estava em lugar algum
Vi que estava longe demais para voltar, vi atos demais para apagar
Vi consequências que não eram apenas minhas
Não me encontrei quando construí algo que pensava ser concreto
Não me encontro agora que me vejo desmoronando
Eu estou longe demais para voltar, mas ainda assim, não sei para onde ir
Não sei se quero ir, não sei se quero voltar, não sei se quero continuar aqui
Possivelmente não consiga me manter assim por muito
Ela vem e sussurra a todo instante que eu roubei seu lugar
Que negligenciei sua vida, sua existência, assim como já negaram a minha
Talvez eu seja mais forte sem ela, talvez ela seja fraca demais para me dominar
Talvez ela esteja apenas parasitando, sobre minhas costas, como qualquer verme
Pode ser coisa da minha cabeça, pode ser algo inventado, é devaneio
Mas sou eu, somos nós, nós somos ela e nada além desse pouco que de nada serve
Agora a amargura dela está entalada em minha garganta
O medo de não deixá-la ser que ele quer sufoca
Como se minha mão a pressionasse a não respirar, poupá-la desse mundo, que nem eu entendo
Buscar por plenitude, narcisismo, a covardia de negá-la vida
Busca por mim mesmo, eu sempre soube onde me encontraria...